Capítulo
2
Passado meu momento de completa insegurança,
Alyssa finalmente chegou até onde eu estava. Olhei em seus olhos e disse:
- Antes de irmos, preciso fazer uma coisa.
Fique parada. – comecei a mexer em meu bolso.
- John, o que você está fazendo? – ela me
pergunta enquanto ria da minha busca incessante pelo que quer que eu estivesse
caçando no bolso.
- Você verá. – finalmente havia achado: uma
tira de pano. Peguei-a e coloquei nos olhos dela, ocultando sua visão. – Agora
terá de pegar em minha mão, se não quiser cair no caminho.
Ainda rindo, ela segura minha mão, e então começamos
a andar. Aos tropeços, por parte dela, fomos até minha “surpresa”. Durante todo
o trajeto, ela não parava de perguntar:
- Já chegamos?
- John, seu bobo, aonde diabos está me
levando?
- Por que colocou essa venda?
- O que você aprontou dessa vez?
A vez de rir agora era minha. Ela parecia uma
criança curiosa querendo saber o que há dentro de uma caixa fechada, sem falar
que ela não sabia disfarçar a ansiedade em sua voz, enquanto um sorriso esculpia seus lábios. Vendo-a
naquele estado tão inocente, meu coração aquecia.
Após
muito andar, e de Alyssa quase ter tropeçado em um toco de árvore, finalmente
havíamos chegado. Suspirei em seu ouvido um "chegamos, milady",
enquanto retirava a venda de seus olhos. Ela não pôde conter uma exclamação,
enquanto seu ser absorvia o que eu estava escondendo dela o dia inteiro: um
piquenique à luz de velas, com um céu estrelado estampando essa noite tão
especial.
Não
podia dar a ela tudo o que eu queria, mas me esforçava ao máximo com o que
tinha em mãos, pois ela é a garota mais especial que já apareceu em minha vida!
Guiei
uma Alyssa em choque até a toalha estendida no chão, e após fazê-la sentar,
pude ouvi-la murmurando: “Como conseguiu fazer tudo isso, John?”. Começamos a
nos deliciar com a comida que eu havia trazido, enquanto ríamos das várias histórias que contávamos para manter o
silêncio longe de nós. Terminada toda a comida, nos deitamos e ficamos
observando as estrelas que nos faziam companhia, enquanto ouvíamos os grilos
tocando sua sinfonia noturna com um esplendor maestral.
Alyssa ergueu seu olhar, ficando de encontro
ao meu. Ficamos nos encarando por 30 segundos, até que ela se estica para me
beijar. Foi um beijo suave no começo,
dava para sentir nele toda a felicidade que eu proporcionei a ela durante essa
noite, mas . Quando nossos lábios se separaram, ela sussurra para mim:
- Obrigada por me dar o melhor aniversário da
minha vida, John.
Ela deita sua cabeça e meu peito, e
continuamos a olhar o céu. Depois de certo tempo, aviso-a que está na hora de voltar,
e mesmo após protestar, ela levanta-se contrariada. Guardo os pratos e talheres
dentro da cesta que eu havia levado, dobro a toalha e guardo-a também, e
refazemos nosso caminho até a casa dela.
Enquanto andávamos, íamos conversando sobre
trivialidades: a vida na fazenda, lembranças de nossas infâncias, curiosidades
sobre os moradores da cidade, e... Sobre o nosso futuro juntos.
- John?
- Sim, meu amor?
- O que você planeja?
- Sobre o quê?
- O nosso futuro. O que faremos quando nos
casarmos? Quais serão nossos planos? Continuaremos como fazendeiros? Iremos
para outra cidade? Teremos filhos? Filhas? Nada?
- Alyssa, você sabe que temos limitações
financeiras... Eu quero te dar o mundo e mais um pouco, mas sou pobre. O pouco
que te ofereço eu já tenho que dedicar meu suor e sangue, e sinto que não é o
suficiente para uma mulher tão espetacular como você. Eu quero que você tenha a
vida de rainha que merece, mas não posso lhe dar isso. Sinto muito...
Chegamos à varanda de sua casa. Deixo-a em
frente à porta, me despeço com um peso no coração, e quando penso em me mexer,
seus braços me envolvem novamente. Sinto minha camisa molhar; percebo que ela
está chorando. Por que ela está chorando?
- Escute aqui, John Peters Ringo. – Ela diz
entre soluços – Não ouse dizer que você não é suficiente para mim! Dentre todos
os rapazes da cidade, eu escolhi você, e não foi por beleza, ou riqueza. Foi
porque você, mais do que todos, tinha um coração puro e doce, e eu sabia em meu
âmago que você seria o único capaz de me fazer feliz. Danem-se as joias, o
dinheiro, as terras! Desde que eu tenha você, do meu lado, eu ficaria feliz até
em ser uma mendiga. Não percebe seu idiota? Eu te amo com todas as minhas
forças!
Viro-me para corresponder ao abraço, e
percebo que ela parou de chorar, apesar de ainda soluçar um pouco. Enterro meu
rosto em seus cachos, e assim ficamos.
Queria que esse momento, com ela em meus
braços, enquanto sinto a fragrância de seus cabelos e seus braços me
envolvendo, durasse para sempre. Queria que o sentimento de serenidade, o
sentimento de que enfim tudo ficaria bem, continuasse pairando sobre nós. Mas
tudo que é bom, dura pouco.
Depois daquela noite, tudo mudou.